quinta-feira, 1 de abril de 2010

Capítulo 5: Descobertas

ESTÁ AQUI

Max estava ao telefone com Jim, o seu jardineiro e um dos melhores amigos.
-Sim, Jim, queria que viesses buscar a minha moto ao Aeroporto. Não, não aconteceu nada, vou de boleia para casa. Obrigado, amigo. És demais. E, lembra-te, para todos os efeitos, eu ia a casa dos meus pais, jantar com eles. Obrigado.
Desligou e pensou que a sua trama tinha dado resultado. Fora apre-sentado à rapariga e, ainda por cima, o Comandante levá-lo-ia a casa.
Claro que não ia jantar com os pais dele, mas tinha de dar uma desculpa para estar a passar pelo Aeroporto.
Certo, ela não era assim tão burra, pensou ele, ao lembrar-se de quando ela falou do carburador, como se fosse uma profissional.
E não era nada feia, riu quando se lembrou daqueles enormes olhos castanhos, cor de chocolate e da maneira como mostraram interesse na sua Harley.
Como reagiria ela quando conhecesse Debbie? Afinal, ela saiu de Portugal por causa do casamento da mãe. Bem, isso não era com ele.
Ele ouviu o barulho do 4X4 do Comandante mesmo antes de o ver. Além de ser parecido com o seu Hummer, havia aquele som característico que só um carro grande fazia.
Prue saiu primeiro e, abrindo a porta da bagageira, inclinou-se lá para dentro. Quando se endireitou tinha um sorriso um tanto vingativo na boca e trazia um vestidinho branco, bastante curto, na mão.
Max ficou a pensar se ela alguma vez o usaria e, então, percebeu que o “pano” seria aquilo. Na versão dela.
Ele não ia deixar que ela estragasse uma peça de roupa como aquela por causa da sua moto.
Por isso, não esperou que eles chegassem à sua beira. Tirou a t-shirt e, pondo mãos à obra, começou a limpar o filtro.
-Max! – Chamou ele. – Podias ter esperado. Eu teria ajudado.
-Já está quase, Comandante. Mas precisava que me desse uma mãozinha aqui. Não consigo segurar e limpar ao mesmo tempo.
Mark ajoelhou-se ao lado do jovem e, com bastante perícia, segurou no filtro do carburador.
Acabaram de limpar o filtro juntos, enquanto Prue estava encostada ao jipe, a conversar com Debbie.
Pelo que Max conseguia perceber estavam discutir livros.
-Adoro um bom policial – dizia Prue.
O vento trazia a Max os sussurros delas e a voz de Prue suave e rouca. Max não notava que estava mais interessado na conversa delas do que em limpar o filtro, mas apanhava cada palavra que elas diziam.
-Ora! Um romance bem escrito é bastante cativante – retorquiu Debbie, com um sorriso malicioso na voz.
-Eu também gosto muito de romances, mas têm de ser muito bem escritos. Aliás, o meu livro preferido é um romance histórico, que quase ninguém conhece, mas…Bolas! É mesmo bom.
-Afinal, qual é o adolescente que gosta de ler, nesta altura? – Perguntou Debbie, como se isso fosse um insulto.
-Que tipo de livros analisas? – Perguntou Prue, realmente interessada.
-Todo o tipo de livro. Incluindo Enciclopédias e coisas parecidas. Mas o que eu mais gosto de analisar é Literatura. Qualquer tipo de Literatura, desde Romance a Ficção Científica, passando por Crime, Policial…Quando tinha a tua idade eu devorava livros, e isso, não se pode dizer que seja uma leitura saudável. Depois, na universidade, aprendi a ler devagar e guardar toda a informação necessária para uma boa crítica.
Max sentiu o exacto momento em que Prue olhou para ele e engoliu em seco.
Certo, pensou Max. O que é que se passa?
Uma ligeira brisa começou a soprar, fazendo o cabelo de Prue esvoaçar à volta dela.
Não era ele, disso Max tinha a certeza. Será que ela estava de algum modo alterada? E se sim, porquê?
Então, Prue desviou o olhar e o vento diminuiu de intensidade.
-Está pronta – disse Mark, levantando-se sem esforço. Ele e Max eram mais ou menos da mesma altura, o que sempre surpreendia o Comandante. – Eu empresto-te o meu casaco.
Ele dirigiu-se ao jipe, tirou o casaco de aviador do banco traseiro e estendeu-o a Max.
Embora não estivesse com frio, era melhor vesti-lo, ponderou Max.
Não era suposto ele andar vestido naqueles propósitos numa cidade como Cravenwoods. Não quando queria chegar intacto a casa.
Max não se achava no direito de ser modesto. Era bom em tudo o que fazia, tinha consciência do quão bonito era. Além dele próprio, algumas raparigas pareciam interessar-se muito com a sua conta bancária e, consequentemente, a dos seus pais.
-Debbie – cumprimentou ele, com um sorriso simpático.
-Max – retorquiu ela, com uma expressão radiante. – Acredito que já conheces a Prue, certo?
-Fomos apresentado – respondeu ele, vagamente.
Entretanto, e para contentamento de Max, Jim apareceu.
Jim era um homem com os seus sessenta anos mas que não os aparentava. Ele tratava dos jardins e dos estábulos de Craven Hall, a mansão de Max, além de ter sido um dos “tutores” de Max.
-Tudo bem, Max? – Perguntou ele, com uma voz forte mas ao mesmo tempo suave, como se tivesse uma gargalhada na boca.
-Tudo, Jim. Mas parece que a minha moto decidiu fazer birra. Achas que a podes levar para Craven Hall?
-Claro que sim – concordou o velho. – Não vais a casa dos teus pais?
-Acho que, pelo menos desta vez, consegui livrar-me deles.
-Olá Jim! – Cumprimentou Mark, alegremente, com uma forte palmada nas costas do velho.
-Comandante – respondeu Jim, com um traço jocoso na voz.
-Como vão os cavalos de Craven Hall?
-Melhor do que nunca – gabou-se o velho. – Pergunte aqui ao menino. Ele apaixonou-se por eles assim que os viu.
-Olha quem fala! – Retorquiu Max, um tanto desconfortável. Poderia achar que não merecia ser modesto mas também não gostava que o elogiassem muito. – Passas mais tempo com os cavalos do que com Kayla.
-Cuidado Jim – avisou Mark, sorridente. – Senão Kayla pensará que a trocaste pelos cavalos.
Jim resmungou baixinho.
-A Kayla sabe exactamente o que significa para mim – respondeu. – Sabe perfeitamente.
Como se só agora as tivesse visto, Jim cumprimentou Debbie e Prue.
-Debbie. E tu deves ser a Prudence – disse ele, com um sorriso na voz. Ouvi-lo falar era como ouvir um pianista a afinar o piano. Com altos e baixos.
-Prue, por favor – pediu ela, com um sorriso agradável. – Suponho que cuida de cavalos há muito tempo.
Ela disse-o de uma maneira tão educada que Max pensou na forma como a mãe dele lhe ralhava quando ele tinha cinco anos. Fria e directa-mente.
Mas Prue era diferente da mãe dele, pensou Max. Completamente diferente.
-Desde que me conheço por gente. Trabalho para a família do Max há mais de cinquenta anos. Gostas de cavalos Prue? – Respondeu ele, com à-vontade.
-Muito – afirmou ela, com um sorriso radiante.
-Lembras-te quando fomos ao Centro Hípico de Nápoles? – Perguntou Mark, com uma gargalhada. – Quis ficar lá até que fomos obrigados a sair porque os senhores queriam fechar. Lembro-me de que montaste uma égua branca e montaste como se tivesses nascido no dorso de um cavalo.
-Agora monto muito melhor – garantiu Prue, com um sorriso. – Dessa vez, chateei tanto a mãe para ela me inscrever numa escola de hipismo, lá em Portugal, que ela me inscreveu mesmo. Estive lá durante três anos.
Max sentiu-se na obrigação de os convidar para sua casa porque queria vê-la a montar. Bem, não era exactamente obrigação porque ele queria fazê-lo. Queria vê-la fazer algo diferente. E queria ver se ela era realmente ágil.
-Mark, Prue, Debbie estava aqui a pensar…e se passassem um dia em minha casa? - Perguntou, deixando Prue espantada. Não estava à espera de tal convite.
Ele percebeu que não estava a ser propriamente bem-educado, mas era algo que não conseguia evitar. Tratava assim quase todas as pessoas.
-Claro! – Concordou Mark com um sorriso cintilante. – Quando te dava jeito?
-Quando quiserem. Que tal amanhã?
-Combinado. Amanhã estaremos em tua casa, digamos, às dez da manhã?
-Pode ser. E assim podem aproveitar o dia. Há muita coisa para fazer.
Outra vez, Max pressentiu uma brisa suave o que era estranho, naquela noite calma. Será ela? Não, não pode ser, ainda é muito cedo.
Ele ignorou a vozinha da sua mente, embora não o fizesse completamente. Teria de pensar nisso mais tarde.
Ficaram todos calados durante alguns minutos até que Prue falou, timidamente.
-Eu tenho fome.
-Não comeste no avião? – Perguntou Mark.
-Pois…comi uma sanduíche à uma da tarde de Londres.
-Há um restaurante de Health Food ali à frente… - disse Max.
-Não é exactamente aquilo que eu estava a pensar – respondeu Prue, com um sorriso tímido.
-Algo mais substancial? – Perguntou Max.
Prue acenou, sorrindo.
-Há um bar fantástico chamado Elton's, onde os hambúrgueres são do melhor que há aqui em Cravenwoods. Com tudo o que desejares e coisas que nem imaginas.
-Mm…isso soa delicioso.
-E sabe muito melhor do que soa – brincou Mark. – Chegamos lá em menos de cinco minutos. E tu vens connosco, Max.
Quando o jovem começou a argumentar, Mark cortou-o.
-Sem hipótese. Vens connosco e está decidido. Jim?
-Não obrigado. A Kayla está à minha espera em casa.
-Tudo bem – concordou o Comandante. – Toca a entrar no carro, meninos.


Este capítulo continua a ser pequeno como os outros, mas prometo que vou pôr os seguintes maiores para compensar. Está difícil vir aqui com as aulas e essas coisas todas...
Beijinhos.